Há dois anos atrás, me lembro bem, estava resolvendo pendências, terminando trabalhos, finalizando um monte de coisa, organizando a vida, fazendo nós de marinheiros daqueles bem atados e desfazendo tantos outros, tudo para fechar um ciclo do jeitinho que tem que ser, primorosamente. Me preparando para sair da vida quentinha e fofinha feito aquele edredom favorito, mas que tá todo rasgado, e me mudar sem deixar nada pra trás. Feliz a beça, porque tinha a desculpa perfeita pra largar tudo e ser feliz sem dar satisfação pra ninguém. Ou ao menos, dar uma boa desculpa, daquelas matadoras. Me livrar de situações mal-resolvidas, pedir demissão pra ficar à toa, apertar o PAUSE e o STAND BY, começar do ponto-zero, dar um pulo na padaria pra comprar cigarro e nunca mais voltar.
Mas é pra descobrir que pra trás é que não ficam situações mal resolvidas. Não dá pra passar a borracha, apertar o del. Tudo que se joga pra baixo do tapete aparece no dia da mudança. E aí a gente pega, espana, joga fora e passa um Veja, porque não quer mais saber, quer esquecer. Mas elas ficam lá, vem escondidinhas nos caixotes, e um dia aparecem. Vão aparecendo assim, de vez em quando, quando menos se espera, sempre as mesmas ações e reações.
E quando aparecem você meio que se surpreende, e bate uma tristeza e se pergunta por quê está longe, se a distância não muda nada. E e dói, o coração se aperta. Mas também se sente forte, porque estar longe faz aprender. Sofrer fica fácil e sentir saudade fica mais fácil ainda. E vê que pode quase tudo e que pode ser mais leve, light, zen, soft, e não precisa se importar tanto. Who cares?
E vê que a vida é assim e pronto, e que não adianta seguir o script ao pé da letra, porque vem alguma coisa pra te dar rasteira. E que não adianta se descabelar, porque vem alguma coisa pra te por nos trilhos. E que não precisa fugir do que está dentro de você.
* * *
Quase dois anos que passaram tão rápido, mas que aprendi tanto que nem cabe e, apesar de balançar algumas vezes, nunca me arrependi.
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